É claro que
nem minha mulher nem eu havíamos percebido que o Antonio tinha desistido de
brincar com o seu pinguim inflável – coisa que não é pouca, já que o pinguim é definitivamente
o seu melhor amigo, real e imaginário, ganhando em estima do pai, dos avós, da
babá e quiçá da mãe – para se compenetrar no filme impróprio para menores de 16
anos a que estávamos assistindo. Tentei virá-lo contra a tv. Em vão. Tentei tapar
os olhos dele nas cenas mais pesadas. Perda de tempo. Assim que eu olhava para
a tela, ele desviava para escapar do bloqueio. Pequeno sim, bobo não.
O filme de
fato tinha um cardápio variado para quem gosta de violência. Não se limitava a
tiros à queima-roupa. Teve morte a garfadas, crânio esmagado com pisadas, pulso
cortado a navalha, faca na garganta, afogamento forçado e o clássico
capotamento colina abaixo após perseguição de carro. Teve até um romancezinho
sem sal para entreter as damas da casa – no caso, peça única: a Ana. Mas desta
vez quem se deu bem fomos nós, os homens, com nosso cérebro programado para
gostar de planos de vingança mirabolantes e atiradores que encaram máfias
inteiras sem sofrer um arranhão. Quem se deu bem fomos eu e o Antonio, que ainda
nas fraldas já demonstra gosto cinematográfico apurado. Agora tenho parceiro
para rever pela septuagésima vez a trilogia do Poderoso Chefão.
Sei que não
será fácil concorrer com o incrível pinguim inflável, um ágil joão-bobo, que ao
melhor estilo Rocky Balboa, encara sequências infinitas de golpes sem se deixar
abater e ainda se levanta de volta com um inabalável sorriso na cara. Tenho
consciência de que será difícil competir com os filmes da Galinha Pintadinha,
cuja trilha sonora figura há quinze meses no topo das paradas lá em casa. Mas
tenho Chuck Norris, Arnold Schwarzenegger e Jean-Claude Van Damme ao meu lado.
Tenho Steven Spielberg, James Cameron e até Woody Allen para me ajudarem. Não
sei se algum dia meu filho vai assistir a um filme de cabo a rabo. E não tenho
muitas esperanças de que um dia ele saia da infância ou seja capaz de entender uma
história completa. O fato é que não vejo a hora de levar o Antonio ao cinema.
Afinal, ser pai é um pouco disso: mostrar o quanto o mundo pode ser divertido. E
se for preciso ketchup voando para que o meu filho se divirta, é ketchup voando
que iremos ver.
Agora já sei quem pode se deliciar ao meu lado vendo Sony bater no cunhado com a tampa de ferro do latão de lixo...
ResponderExcluirÉ isso aí Tom Tom: Patati Patatá é pros fracos!!! <3
Se bem que se o Patati Patatá forem assaltantes de banco psicóticos, pode até dar um bom roteiro.
Excluirka ka ka ka ka !
ResponderExcluirOh, guri, tens é que proteger teu filho das mardades da vida, mesmo no cinema. Isto é filme prá se ver perto de um bebê! Aqui vai uma chinelada sangrenta ! Da mamãe.
Tom Tom deve ter gostado da cor vermelha. Que é linda.
Acho que gostou dos barulhos, para falar a verdade.
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