segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Material de construção

Em tempo de Olimpíadas, declaro abertas as obras do meu futuro lar. Espero honestamente que não tenham as modalidades tiro (ao pedreiro), esgrima (contra o marceneiro) ou boxe (com o eletricista). Felizmente, ainda não foram necessários golpes de judô na arquiteta, mas suspeito – após voltar da minha primeira reunião de condomínio – que em breve eles poderão ser úteis contra alguns indivíduos da construtora. Estou na expectativa também que meu casamento sobreviva intacto a esta pequena obra, e que as discordâncias sobre a cor da parede e sobre os ganchos de pendurar toalha sejam amenas, e, principalmente, que a gente consiga fazer a mudança antes que minha mulher queira me jogar pela janela, ao melhor estilo lançamento de peso.

Passei a vida inteira vendo as pessoas em minha volta degustarem uma amostra do inferno em suas próprias reformas. Por isso, quando começou a quebradeira em meu apartamento, cheguei a sentir um frio na espinha. É que meu histórico recente não é dos mais animadores. Só os imprevistos da minha família já dariam uma bela continuação para o filme “A Casa Caiu”. Na obra de uma irmã, por exemplo, os armários da cozinha, recém comprados, apodreceram em poucas semanas por causa de um vazamento não identificado pelo engenheiro. Na mesma reforma, uma janela de madeira maciça despencou do segundo andar da casa quando meu sobrinho tentou abri-la. Já no quebra-quebra de outra irmã, o marceneiro – previamente pago – faliu antes de fabricar os móveis. Por sorte já havia comprado o material. Além disso, o alinhamento do gesso teve que ser refeito. E o piso, mal afixado, teve que ser completamente recolocado. Ainda pequeno, na reforma de uma das casas em que vivi, lembro que a fechadura da porta da frente havia sido instalada ao contrário (para trancá-la, tínhamos que girar a chave no sentido de abrir, e vice-versa). Quando questionado, em vez de apenas admitir a distração, o mestre de obras ainda tentou sair por cima. Disse que era pra enganar ladrão.

Por mais que as propagandas anunciem ofertas imperdíveis, o sofrimento só aumenta na hora de somar os gastos com massa de reboco, lâmpada dicróica, gesso rápido, espelho de tomada, vassoura, pano de chão. De loja em loja, o seu orçamento vai dando saltos ornamentais até escorrer completamente pelo ralo, cromado, da Deca, que ninguém além de você vai perceber, mas que, em se tratando da sua futura casa, parece indispensável para a sobrevivência da família e para a harmonia geral da decoração.

Reforma é uma verdadeira prova de resistência. E para não definhar, decidi fazer algumas resoluções, antes mesmo que a primeira martelada arrancasse o primeiro pedaço da parede. São 10 mandamentos no estilo "não matarás o seu gesseiro" e "não trairás o bom gosto em favor do maior desconto". Espero que eu os obedeça com disciplina de atleta. Ou, pelo menos, com a humildade de um novato em construções.

  1. Não farás 300 orçamentos para cada item da obra.
  2. Pegarás dicas com pessoas da tua confiança, pesarás na balança preço versus qualidade, e tomarás a tua decisão.
  3. Não te frustrarás se não conseguires o melhor preço da cidade em todos os itens.
  4. Pagarás à vista.
  5. Não corrigirás os erros de português da tua mão-de-obra.
  6. Entenderás civilizadamente que toda obra demora no mínimo 50% a mais do que o prazo estimado.
  7. Tolerarás os imprevistos sem arrancar os cabelos, pois tu já tens poucos.
  8. Não brigarás com tua mulher.
  9. Não extrapolarás (muito) teu orçamento.
  10. Entrarás no apartamento apenas quando estiver tudo pronto e, mesmo que ainda não seja a tua tão sonhada casa com espaço para ter uns sete filhos, uns dez cachorros e uma imensa biblioteca com poltrona de leitura, serás feliz.
Ainda estou bem no começo da obra. E mesmo sem avistar muitos problemas à frente, estou preparando minhas vigas internas para algumas pequenas decepções. A meu ver, ganha no jogo da vida – e nos jogos esportivos – quem se prepara mentalmente para a dor, para os imprevistos, para ter que fazer alguma improvisação. Parece pessimismo, mas é apenas uma poda das expectativas, um pouco de precaução. Depois que eu tive um filho especial, ter a capacidade de aceitar adversidades provou ser o meu mais útil material de construção.

27 comentários:

  1. Fábio, eu já fiz várias reformas no meu apartamento e o que é pior, tds elas c/ a gente morando nele. Graças a Deus não tive grandes problemas, só mesmo os transtornos normais. Numa das vezes resolvemos tirar o carpete e colocar piso frio. Os móveis iam se deslocando de aposento em aposento. Era uma aventura, nunca sabíamos direito onde a gente ia dormir. Num desses deslocamentos de móveis, uma cômoda dos meus gêmeos, que na época deviam ter uns 10 anos, foi parar num corredor c/ as gavetas voltadas p/ a parede. Era dia de futebol de salão e um deles teve a ousadia de dizer que queria ir c/ a camisa do Palmeiras. Nem preciso te dizer que a resposta foi: "vc vai c/ aquela que a minha mão conseguir pegar". E assim foram muitas outras e sobrevivemos a todas. Te desejo boa sorte!

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    1. Cléo, pra reformar morando na casa tem que ter coragem. Na minha família passamos por uma bem grande assim. Era um transtorno. rs. bj

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  2. E nada melhor que após uma reforma, que te garanto, vai te cansar!, ir descansar a cabeça com a gente em Vegas, baby! #anaefabioemvegas

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    1. Gostei da campanha. Vou colocar você para falar com os meus chefes. rs rs rs Falamos disso sábado então. bj

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  3. Nossa, nada fácil qd se trata de fazer reforma. Aborrecimentos aparecem sim, com certeza.A escolha e a compra de material, deixa a gente doida. Tem que ir em várias lojas, pq a diferença de preço,às vezes, é bem grande.A gente nunca gasta aquilo que previu, sempre ultrapassa. Tem que ter paciência pra lidar com os profissionais da obra, que nem sempre são tão profissionais qt deveriam.Com fé, calma e na esperança de que td fique do jeitinho que a gente pensou, um dia a reforma acaba (sempre ultrapassa o prazo inicial) e aí sim, a alegria volta a reinar, só de ver que a bagunça, o transtorno e os imprevistos deram vez, a um lugar gostoso, novo e aconchegante, vale a pena se aventurar numa reforma.
    Boa sorte pra vc

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    1. Sonia, fico só imaginando o lugar pronto. Realmente, é o maior incentivo. bj

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  4. Aprendizados que virão após a reforma:
    1) Vc terá aprendido o dialeto "pedreirês". Ou não.
    Eu, arquiteta há quase 10 anos, ainda não entendo ONE SINGLE WORD. E no telefone piora. Eu garanto.
    2) Depois da reforma, todos nós ( Vc, Ana , Tom Tom e eu ) iremos botar o espaço "Garage Band Teen" pra ferver. Nunca antes na história desse país haverá uma releitura do Restart mais sinistra. Já adquiri nossas calças skinny em tonalidades fluor.
    Mal posso esperar...

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    1. 1) Ainda bem que não vou ter que trocar nenhum rezistro.
      2) Garage Band Teen reservada para a gente. O Tom já tem uma calça verde. E eu, por acaso, neste momento estou com uma camiseta amarelo marca texto. A gente pode não saber cantar, mas isso o Restart também não sabe.

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  5. Adorei seu relato sobre sua obra Fábio!
    Mas confesso que senti um frio na barriga. Estou fazendo Design de Interiores, e hoje na aula falávamos exatamente sobre esta relação marido/mulher/arquiteto ou design/pedreiro. Realmente não é muito fácil! Durante meu casamento, que já dura 27 anos, fizemos algumas reformas, e sei exatamente o que você está passando. Ainda pior, porque precisamos conviver com a falta de profissionalismo e qualidade nos nossos serviços em
    Brasília. Mas vai com fé, vocês sobreviverão e o ap. vai ficar lindo! Boa sorte
    Lucimary

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    1. Obrigado Lucimary. Sabe que até não estamos brigando muito? É uma obra bem pequena, é verdade. Quem sabe em algum tempo tem fotos do Antonio por aqui no apartamento novo. Daí todo mundo vê como ficou.

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  6. Fábio,

    Gostei dos ensinamentos ! Exemplares.

    Eu até que gosto de uma reforminha ! Depois fica tudo tão bonito. rs rs rs

    Beijos

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    1. Eu sei que tu gosta de uma reforminha. rs. Esse gene não herdei. bj

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  7. Fábio, essa sua amiga Manuela do Prado é uma piada! Sempre morro de rir com os comentários dela! : )
    Reforma dá trabalho sim, mas, como disse a mamis, depois fica tudo tão bom que a gente esquece (acho que é tipo parir, rsrsrsrsrs!!!!).
    Bjão

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  8. Eu também adoro os comentários da Manoela do Prado ! Ela tem senso de humor.

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    1. Ahahaha!!!! Só falo bobagem por aqui...
      E pra piorar estou ensinando cousas ruins pro Tom Tom : musicas do Gugu e do Celso Portiolli.... Ahahaha!!
      Bjo pra vcs!

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    2. Tom Tom aprendeu a chorar ininterruptamente durante a noite até a gente desistir e trazê-lo para a nossa cama. Foi você que ensinou isso?

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  9. Hahahaha... genial e muito divertido o texto! Adorei os 10 mandamentos.. e, pra variar, mais risadas com os comentários da Manu, só para rezistrar... Ab nos 2! Da Vila

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    1. Tô tentando seguir os meus próprios mandamentos. Vamos ver se vou conseguir. Vou abrir a seção no blog: "Comentário da Manu". Vai ter mais audiência que o texto. rs Abraço

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  10. Nossa nem me fala em obra .j´s estou a um ano de reforma,sempre da uma coisinha aqui e ali,agora resolvi mudar tudo de novo kkkk.Boa sorte na rua reforma aí.bjss

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  11. Fabinho, tô até agora rindo da fechadura invertida pra pegar ladrão. Muito bom!!!
    Eu também estou me preparando espiritualmente para a reforma do nosso apartamento que ainda não recebemos as chaves, deve sair este mês ainda, se Deus quiser.
    Também estamos na fase de projetos com a arquiteta, vamos ver no que vai dar, eu sou como você, já me preparo para algumas decepções, pra não sofrer tanto no final. Mas sei que o mais difícil vai ser aguentar o sofrimento exacerbado de minha mulher, que não aceita esses pormenores.
    Mas vamos lá, assim como nas reformas residenciais, passar um gesso e depois lixar e pintar alguns sentimentos também faz parte da vida.
    Abraços, Reinaldo.

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    1. A da fechadura foi de doer, Reinaldo. E tinha mais atrapalhação, eu é que não lembro. Boa sorte na reforma. A minha, até agora, está indo bem. Abraço

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  12. Adorei os recadinhos, queridões!!
    E declaro aberta a aba neste maravilhoso blog: zoada da Manu ou Manu zoada... ainda não decidi...
    beijos a todos...

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  13. Rejane Silene de Castro22 de agosto de 2012 às 10:06

    Olá Fábio,
    Posso falar e comentar com propriedade sobre este assunto, pois há exatamente um ano atrás iniciávamos a construção da nossa casa.
    Vivi todos estes passos que colocas no teu texto e não se trata de pessimismo... é a realidade do que acontece.
    Fui servente de obra, aprendiz de engenheira, carreguei muitos - vários tijolos, fiz concreto... literamente coloquei as mãos no cimento.
    Eu e o Felipe tivemos muitas alegrias durante este período de contrução, mas também tivemos momentos tristes.
    Posso lhe falar que valeu a pena cada orçamento feito, cada sábado trabalhando pesadamente, pois hoje sabemos exatamente o quão bom foi e ainda será esta constante obra.
    Grandes são as lições que aprendemos numa reforma ou numa construção.
    Abraço Fábio e desejo um período maravilhoso para toda família.

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    1. Vi pelas fotos a construção da casa de vocês. Foi divertido acompanhar a coisa tomando forma. A nossa reforma é bem menor. Não tem nem comparação. É só uma ajeitada para entrar em um apartamento que foi entregue com quase tudo pronto. bj

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