Verão é
sinônimo de praia. E praia, para mim, é sinônimo de pegar jacaré.
Não que eu
não aprecie o interminável cardápio de quitutes anunciado aos berros pelos
ambulantes. Sou consumidor voraz de queijos, picolés e milhos de origem desconhecida
e higiene questionável. Porém, mesmo na mais deserta das praias, onde se pode
ouvir o mar em vez dos slogans do vendedor de empada, há um item que não pode
faltar: uma onda, uma marola que seja, para pegar um bom jacaré.
Digo isso
porque talvez alguns tenham sentido falta de um texto de Natal neste blog. Em um
ano tão marcante, com tanto para refletir, havia material de sobra para uma
mensagem especial no mais universal dos feriados cristãos, mesmo que não fosse
segunda-feira. Porém tenho uma justificativa para minha ausência. É que 2011, para mim, tem sido
como se eu estivesse em um imenso jacaré. Um jacaré de doze meses. E como
inventei de pegar uma onda grande, acabei tomando um caixote bem no final.
Na semana
passada, retornei de uma viagem e encontrei o Antonio com febre em casa. “Acho
que é saudade do papai”, brincou a Ana, com aquela preocupação no olhar que já
conheço bem. Foram 24 horas com temperatura acima de 38 graus. Os resultados dos exames de sangue
e urina vieram bastante alterados. Quando percebemos, em plena semana anterior ao Natal, estávamos internados em um hospital.
Parêntesis
para os fãs de House: o Antonio estava
com uma infecção urinária importante, com suspeita de que tenha atingido os
rins. Está sendo tratado com doses equestres de antibiótico, devidamente
injetadas no bumbum. No início, passava de duas a três horas magoado após a
espetada, fazendo um bico tão irresistível, que dava vontade de fotografar.
Agora, experiente, grita apenas no momento da agulha, depois mia por uns
minutos e volta a cair na gargalhada.
Com exceção dos bicos fofos, os dias de hospital foram um martírio. Ironicamente, naquela semana eu
havia escrito algo sobre não querer voltar ao passado e, logo depois, tudo o que eu desejava
era retornar aos momentos sem injeções, sem enfermeiras, sem dor. Ver meu filho
sofrer novamente, nos mesmos moldes que vi nos seus primeiros meses de vida,
serviu para me acordar. Criar um filho, especial ou não, é uma subida
constante. O prêmio por um degrau vencido é outro degrau a esperar.
Tivemos
alta na manhã da véspera de Natal. Iríamos poder passar o feriado com a nossa
família, no calor de casa, o melhor presente que Papai Noel poderia
providenciar. A medicação continuaria sendo feita em domicílio, até o Antonio
conseguir mandar todas as bactérias embora. A febre também deu trégua. O
sorriso do meu banguela voltou a dominar.
Aliviado,
mas exaurido pelo susto e pela pouca maciez do sofá do hospital em que dormi
por três noites, não tive forças para escrever um texto de Natal. Não seria
justo nublar uma data tão querida com uma chuva que só atingiu o meu telhado.
Porém,
assim como se pode tirar energia de lixo, consegui extrair algo de bom desses
dias de internação. Vi minha mulher e eu lidando com as dúvidas e os medos com
movimentos mais conscientes. Percebi que estamos mais confiantes, lutando com
mais eficiência, tomando as decisões certas mais rapidamente. Em vez de aceitar
as opiniões dos médicos passivamente, dialogamos com eles e tomamos as rédeas
das decisões. Intervimos o tempo todo a favor do nosso filho. Exercitamos,
literalmente, o que é ser responsável por alguém. E acredito que nos saímos
bem.
O decorrer
deste ano foi instável e borbulhoso, mas foi também inesquecível. Sem
dúvida, foi a onda mais forte que a Ana e eu já pegamos. Ainda estamos meio tontos com o nosso caixote, ainda estamos com os corpos arranhados. Por um momento, deixamos todos ao nosso redor preocupados, mas felizmente conseguimos desafogar. E como crianças em um verão bom, já estamos nadando de
volta para o fundo. O ano novo está chegando. Temos outro jacaré para pegar.
Um bom 2012 a todos.
Fábio, Ana
e Antonio.
The Underwater Project, Mark Tipple - www.theunderwaterproject.com |