Minha mãe fala pelos cotovelos. Pelos dois ao mesmo tempo, se você deixar. A ciência ainda não comprovou que matraca sem freio é hereditária, mas não restam dúvidas que foi daí que eu herdei meu apreço por discursos, meu talento para dar com a língua nos dentes e minha necessidade de puxar papo com transeuntes de elevador.
Cresci em uma casa onde tudo era discutido, do local das próximas férias de verão a quem ficaria com o ventilador. Nunca experimentei a figura do pai lacônico, mirando de soslaio os filhos cabisbaixos e os obrigando a chamá-lo de senhor. Na nossa mesa a conversa rolava solta. E à medida que os anos passavam, fui aprendendo os benefícios de me tornar um homem familiarizado com as palavras. Arranjei até uma meia dúzia para convencer algumas garotas a me beijar.
Dizem que todo homem procura uma mulher aos moldes da própria mãe. E quando decidi casar com a Ana, a comparação foi inevitável. Ambas gostavam de moda. Ambas eram extrovertidas. Ambas falavam sem parar. Porém, minha mulher escondia uma mania, uma diferença fundamental, que fazia qualquer semelhança entre as duas se dissipar. Dentro de casa, na vida a dois, a Ana usa o silêncio para se comunicar.
Em nossos desentendimentos não há discussão. Quando algo a desaponta, ela simplesmente se fecha, feito flor. Eu perco o meu direito a beijos por tempo indeterminado, em uma espécie de castigo, sem direito a falar. Até que depois de algum tempo, sem antecipação, ela encosta o seu pé no meu, embaixo do cobertor, e ganho o meu beijo. Não é preciso falar, está dito nos olhos. O silêncio acabou. E não deixou palavras para machucar.
Desse diálogo mudo nasceu um bebê especial, em todos os sentidos que essa palavra pode ter. O curioso é que a síndrome do nosso filho não tem nome, não há um termo que possamos usar. E dos vários túneis escuros que estamos tendo que explorar, um dos que mais me assustam é a possibilidade do Antonio não falar.
Desde que comecei a escrever sobre a nossa vida, tenho recebido diversos relatos de pais de crianças que contrariam as previsões médicas, superam todas as expectativas e aprendem a andar, a comer sozinhas ou a usar a fala para se comunicar. Esse é o melhor apoio que podemos receber. A experiência de quem viveu na pele e sabe que esse rio é possível de atravessar. Enquanto não chega a idade de dizer papai e mamãe, o melhor que temos a fazer é falar com o Antonio o tempo inteiro, pronunciando as palavras em bom som, em bom português e a uma distância que ele consiga enxergar.
Não sei por onde perambulamos antes de vir a esse mundo. Não sei se temos a oportunidade de escolher a família na qual vamos nascer. Apenas sei que, se de fato tivermos essa opção, o Antonio fez a sua com inteligência. Escolheu um pai falante como a avó e uma mãe fluente em silêncios. Com palavras ou sem palavras, ele sempre terá alguém para conversar.
Posso montar seu fã clube? Oh menino para escrever bem...mais que meus livros, meu amigo está se tornando minha referência literária! E tenho certeza que depois que aprender a falar, quando o Antonio começar a entender essas palavras todas, quando ouvir as palavras deste blog vai se emocionar tanto quanto eu...
ResponderExcluirSou teu fã também, meu brother. Que bom que tem vindo constantemente.
ResponderExcluirTuas 'meias palavras' ou 'palavras inteiras' já dizem tudo!! Este trechinho para mim, foi especial: "Apenas sei que, se de fato tivermos essa opção, o Antonio fez a sua com inteligência. Escolheu um pai falante como a avó e uma mãe fluente em silêncios. Com palavras ou sem palavras, ele sempre terá alguém para conversar." Texto incrível !!Parabéns!!
ResponderExcluirOi, Fábio. Adorei conhecer teu blog. Conheço inúmeras crianças e pais que superaram todos os prognósticos da nossa medicina....E sabe, acredito que Deus escolheu muitissimo bem a família pro Antônio...um pai que fala com palavras e uma mãe que fala no silêncio!!! Ele, com certeza saberá mesclar as formas de "falar" com maestria.
ResponderExcluirNem me apresentei. Desculpa-me. Sou professora e quero te pedir livença para divulgar teu blog..para pais de crianças especiais e professores.Posso?
Nossa!! faltou espaço....rs.. "peço licença"...ô pressa.Obrigada. Adriane
ResponderExcluirClaudine, obrigado pelas suas palavras também. Um beijão.
ResponderExcluirAdriane, é claro que pode divulgar. Obrigado por se apresentar. Um beijo.
ResponderExcluirMuito legal. Vc realmente escreve muito bem. Abracos!
ResponderExcluirObrigado, Bindes. Abraço.
ResponderExcluirLindo! Lindo! Lindo texto!!! Amei e me comoví como sempre!!! Sabe, sou parecida com vc, também falo pelos cotovelos (quando deixam)mas em casa sou como a Ana.
ResponderExcluirQuando Doca montar o seu fã clube, vou ser a primeira da lista, depois dele, é claro!!Muitos beijos para vcs e um muito carinhoso no Antonio!
Aonde eu compro os produtos licenciados do blog?? Fãs "de responsa" usam a camiseta e tomam café na caneca...
ResponderExcluirBeijão, Fabinho!
Solange, uma alegria a cada comentário seu. Quero você como sócia número 1 do fã clube. Tenho certeza que o Doca não se importará de ceder a posição. Um beijo.
ResponderExcluirManu, fã VIP como você não precisa comprar produtos licenciados, recebem em correspondência exclusiva, na porta de casa. Sabe que o Antonio, quando nasceu, distribui canecas com o próprio nome aos quatro ventos. Ele já sabia que atrairia fãs por todos os lados. Obrigado pelos comentários, elogios e compartilhamentos. Um beijo.
ResponderExcluirFábio, hoje é a 1ª vez que acesso seu blog e me deparo com o texto sobre as palavras, minha paixão. Tanto que estou em Sampa por causa delas. Mas o que mais gostei foi finalmente ver fotos do Antonio. Por elas percebo o quanto Antonio é eloquente na simpatia. Seja qual for a sua linguagem, tenho certeza que o amor entre vcs construirá a ponte de comunicação entre toda a família.As palavras poderão se tornar um luxo diante de tantos gestos efusivos. Abraço, Mariana.
ResponderExcluirBacana o texto. Gozado, a psicologia diz que nós, homens, passamos nossas vidas buscando nossas mães em toda mulher que esbarra conosco mas no meu caso a coisa não foi muito assim, não. Minha atual esposa é bastante diferente da minha mãe. E agradeço a Deus todos os dias por isso. Minha mãe é bacana e eu a amo mas eu não gostaria de me casar com alguém que se parece uma cruza entre Mussolini, Cacareco e Xuxa. Antonio parece que está bem de mãe e isso é reconfortante.
ResponderExcluirMariana, bem-vinda. Vou postar fotos do Antonio com mais frequencia. É um pedido constante. Obrigado pelo comentário. Volte mais vezes.
ResponderExcluirMr. Hairday, preciso conhecer sua mãe. Deve render um livro inteiro. bj
ResponderExcluirFábio, sou, tb, fã de responsa! Que lindeza de escrita! Quero o próximo!
ResponderExcluirObrigado, Ana. Prometo que o próximo não passa de segunda. É preciso disciplina para escrever. bj
ResponderExcluirFábio, o Manoel de Barros é um poeta que adoro e costumava dizer que "a criança erra na gramática, mas acerta na poesia". Pode ter certeza que se faltarem as palavras para o Antônio, sua fala estará presente em outros lugares e irá descobrir que podemos escutar muito além dos nossos ouvidos... acredito que entre vc e Ana isso já é sabido! bjos, Marcela
ResponderExcluirMuito legal a citação, Marcela. Um beijo.
ResponderExcluirNum mundo cheio de más notícias seu blog traz esperança aos sortudos leitores. Ou como citado em Morte e Vida Severina, "é lindo com um sim numa sala de nãos". Creio que com o conhecimento de muitos, não só aumentaram seus fãs mas tb a corrente de pessoas que torcem pelo Antônio. Talvez, de alguma forma, essa corrente possa beneficiar no desenvolvimento desse filho tão querido. Obrigada por compartilhar seu amor. Suas palavras proporcionam a todos tudo o que á de melhor. Bjos Dani
ResponderExcluirObrigado pelo lindo comentário, Dani. Não tenho dúvida alguma de que essa corrente beneficia o Antonio. Ela gera dicas, troca de experiências e energia positiva. Bjão
ResponderExcluirFabinho, esse blog já virou leitura obrigatória e indispensável todas as semanas. Desse fã-clube eu também faço parte! Antonio escolheu mesmo com muitíssima inteligência e à dedo seus pais. E felizes de nós que podemos, mesmo que de longe, ver esse amor compartilhado em tão bonitas palavras. Bjo pros três!
ResponderExcluirObrigado, Maíra. Você também, no dia que o Antonio for uma celebridade e este blog for um sucesso acachapante, ganhará suvenires VIP em casa. Rs bj
ResponderExcluirEsse blog é mesmo um pedacinho do céu!!! Eu leio e fico imaginando aquela cara linda que ele tem!! Dentre as milhões de coisas que eu já te disse, gostaria de repetir apenas uma: essa vida é fo.........mas vale a pena demais!! beijos Roberta Ludwig.
ResponderExcluirEle anda com umas caras novas impagáveis. Se ao menos elas durassem tempo suficiente para eu fotografá-las. Bj
ResponderExcluirFala, Fábio!
ResponderExcluirObrigado pela força!
Seu blog é muito bacana. Bem cuidado e os textos são ótimos!
Parabéns!
Um abraço!
Obrigado, Robson. Boa sorte lá no prêmio. Abraço.
ResponderExcluirMeu filho,
ResponderExcluirMuito bom !
Só um adendo, a avó não dá, mais, com a língua nos dentes !
Beijão.
Mãe
A gente aprende com o tempo, né mãe. Eu volta e meia ainda me arrependo de algumas palavras. bj
ResponderExcluirQue coisa mais linda este texto, com um final maravilhoso. Isso mesmo, Fábio. O belo arranjo de uma música é feito de acordes e silêncio. Um dá brilho ao outro. Quando abrirem as inscrições do fã-clube, por favor, e-mail para davilafm@yahoo.com.br.
ResponderExcluirDa Vila, pode deixar que a sua carteirinha de sócio está reservada. Obrigado por compartilhar e acompanhar isso daqui. Abraço
ResponderExcluirFábio, eu me identifiquei c/ seu texto na parte de falar pelos cotovelos e na parte da família que sempre discutiu todos os assuntos em volta da mesa. Eu sou mãe do Da Vila e ele pode confirmar isso. Qto ao seu filhinho, não tenho nenhuma experiência no assunto, mas c/ aquela intuição que toda mãe tem, posso te garantir que vcs estão no caminho certo em falar muito c/ ele. O mais importante é ele sentir todo o amor que lhe é dedicado. Sempre ouvi dizer que um casal que tem um filhinho especial, são pessoas iluminadas e por isso vão saber desempenhar a tarefa c/ maestria. Parabéns pelo blog. Serei uma leitora assídua daqui p/ frente.
ResponderExcluirObrigado Cléo. Pelo que conheço do Da Vila, tenho certeza que crescemos em mesas bem parecidas. Um beijo. Que bom que gostou.
ResponderExcluirUma das coisas mais bonitas que li nos últimos tempos: "o silêncio acabou. E não deixou palavras para machucar".
ResponderExcluirObrigado, Juliana.
ResponderExcluirFabio, conforme pedido pela Cléo, confirmo que ela é minha mãe. Hahahaha
ResponderExcluirMas eu nunca duvidei! rs Abraço pra ela. Estou lisonjeado que meus amigos - você não é o primeiro - estão repassando o blog para as famílias.
ResponderExcluirUma mãe influente em silêncios, me identifiquei com isso, rs!
ResponderExcluirÉrika
Tenho certeza que sim. rs. um bj
ResponderExcluirFábio, não sei se você vai lembrar de mim. Eu acompanho o Antônio desde da barriga e depois no pós parto. Sou Dani Rico, fui professora da Ana de atividade física na gestação e no pós parto e também ministrei algumas aulas de bebês para o Antônio. Parabéns pelo blog, emocionante! E tenho certeza que ajudará muitos pais a lidar com esta caminhada de forma especial. Suas palavras são lindas e comoventes. Tenho certeza que o Antônio nasceu numa família mais que especial e vai surpreender a todos, por que ele tem o mais importante de tudo AMOR!!! Obrigada por compartilhar todo este sentimento no blog! Vou acompanhar e divulgar sempre!
ResponderExcluirDani, lembro sim. Obrigado pela visita e pelo comentário. É uma luta diária, mas tem sido muito engrandecedora. Divulgue a quem quiser. Um beijo.
ResponderExcluirConheci sua familia hoje, atraves de uma outra historia que nao vem ao caso, mas queria dizer que ao ler suas historias e novas aventuras com o Antonio voltei ao passado, mais precisamente ao dia 20 de abril de 2005 quando nasceram minhas filhas gemeas (identicas), Julia e Sophia, por meio de uma cesariana de emergencia devido a um serio problema com a Julia (ela tem paralisia cerebral). Re vi meus sentimentos, medos, emocoes, alegrias e pude chegar a conclusao de que a caminhada que tivemos foi doida, assustadora dificil, mas ao mesmo tempo cheia de maravilhosas surpresas e lagrimas de alegria. Aprendi a descobrir a alegria da vitoria nas coisas simples e pequenas aos olhos comuns, mas nem por isso, menores do que as "normais". E nesta caminhada tenho conhecido pessoas e familias maravilhosas, cada uma em diferente estagios e dores, mas maravilhosas. Em cada um desses dias vi a mao de Deus ao meu lado, depois de cada consulta, cada parecer, cada previsao, em meio a dor e a alegria. Ele foi e continua sendo minha forca e eu desejo que vc e a Ana encontrem esta forca e consolo tambem. Em dias bons, em dias nao tao bons. Um abraco em vc, na Ana e no querido Antonio. Lia
ResponderExcluirLia, obrigado por escrever. Tenho a sensação de que pais de crianças especiais têm uma identificação imediata, passam por situações diferentes, mas com sentimentos muito parecidos. Que bom que escreveu. Espero que volte sempre. Um beijo.
ResponderExcluirEm uma única palavra:SENSACIONAL!
ResponderExcluirEm uma única palavra também Leandro: obrigado.
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