Apesar de
acreditar que parte predominante dos leitores dos meus textos seja composta por
mães, avós e outras mulheres que, por alguma razão, pessoal ou não, decidiram
acompanhar a minha trajetória com o Antonio, tenho a impressão de que alguns
marmanjos também pisam por estas bandas de vez em quando.
Ainda bem.
Não tenho o talento do Chico Buarque para mantê-las eternamente anestesiadas,
seja com minhas letras, seja com meus olhos não-azuis, e estaria em extrema
desvantagem quando, por acidente, escrevesse algo que desagradasse o público
feminino.
Por isso,
as linhas a seguir são dedicadas a indivíduos desavisados como eu que, apesar
da barba arranhar feito lixa, fazem questão de beijar seus rebentos até quase
sufocá-los. Homens de fibra, que encaram fraldas recheadas de número 1 e número
2 sem fraquejar. Pais que entendem que seu papel é maior do que trocar as
lâmpadas e matar as baratas, e se mantêm firmes, mesmo quando dá vontade de
jogar tudo para o alto e sair para encher a cara. Sei que ainda somos minoria,
mas nosso exército há de triunfar.
Longe de
mim querer incentivar hábitos revolucionários, questionar tradições que dão
certo há milênios ou ameaçar o lugar das mães no topo do pedestal (com as avós
nas duas vagas imediatamente ao lado). Há alguns anos assisti um filme em que
Robert de Niro vestia um peito de borracha para amamentar o neto. Engraçado,
mas absolutamente repugnante. Tem coisas que nem Vito Corleone pode. E olha que
respeito Vito Corleone como um pai. Ou melhor, como um padrinho.
Entretanto,
como bem definiu Jorge Furtado no filme Ilha das Flores, acredito que qualquer
ser bípede com tele-encéfalo desenvolvido e polegar opositor, mesmo que do sexo
masculino, seja plenamente capaz de aprender a misturar água com leite em pó ou
passar Hipoglós na sua cria. Não acredito em divisão igual de tarefas, tem
horas que a mãe é insubstituível, mas dar uma mão é algo que estou disposto a
fazer.
Antes que
alguns comecem a me jogar tomates, quero fazer uma observação importante. É claro
nós homens podemos muito bem nos isentar de algumas tarefas domésticas, se
assim o desejarmos. Eu, por exemplo, resisto bravamente à pia de louças sujas,
sendo capaz de conviver pacificamente com eventuais cucarachas e colônias de fungos. Porém, o Ministério
da Saúde adverte que isso seja combinado previamente com sua digníssima mulher,
logo após você notar – e elogiar – o seu novo corte de cabelo, e certifique-se
de acertar as condições nos mínimos detalhes. É importante ressaltar também que
o preço será sempre absurdamente injusto e que a sua dívida só poderá ser
quitada em moedas nobres, como Euro ou ouro.
Caso você
opte por pegar um financiamento no banco apenas para não ter que limpar
eventuais excreções do seu herdeiro, entendo perfeitamente. Mas antes de tomar
decisões drásticas, pense que algum dia sua mulher não estará em casa e que,
sem mais nem menos, o seu filho começará a berrar como uma sirene e a jorrar
lágrimas, seja por fome, frio, dor ou outras 500 possibilidades, e que o fim
daquele martírio – para o bebê, para os vizinhos e para você – depende
exclusivamente das suas habilidades. Não adianta chorar junto. A batata está
com você.
É por isso
que sempre digo que cuidar de criança é como nadar ou andar de bicicleta:
melhor aprender logo. Não dói, não tira pedaço e em pouco tempo o seu filho
começa a entender que você não é o entregador de pizza ou o porteiro do prédio.
E aí, meu amigo, quando você é pego de surpresa pelo primeiro sorriso banguela,
é nocaute na certa. Você não vê nada em volta, não escuta nada em volta e não
consegue mais sair dali.
Para
terminar, peço licença mais uma vez às persistentes mulheres que continuam
lendo até este ponto, mesmo tendo sido levemente colocadas para escanteio lá em
cima. É que tenho uma outra questão para resolver apenas com os integrantes do
Clube do Bolinha. Uma pergunta importantíssima que quero fazer aos meus amigos,
e que venho adiando desde que o Antonio nasceu: e aí, vagabundos, alguém topa
jogar um pôquer?
To the brothers
Even though I believe the
majority of the readers of this blog are mothers, grandmothers and other women that, for any
reason, personal or not, have decided to follow my journey with Antonio, I have the
feeling that some dudes also come here once in a while.
Thanks God. I don’t have
Chico Buarque’s talent to keep those women forever numb, either by my writing or my
non-blue eyes, and I would be in extreme disadvantage when, by accident, I wrote
something that made the female readers uneasy. PS: Chico Buarque is a very popular brazilian singer, admired by men, truly loved by ladies.
For that reason, the
following lines are for those unaware individuals like myself, who although the
beard sticks like sand, make sure to kiss their kids until almost smothering
them. Men of fiber, who face diapers full of number 1 and number 2 without flinching.
Fathers who understand their role is bigger than just changing the light bulbs
and killing cockroaches, men who stick to it, even when they want to give up and go out for a drink. I know guys like us are the minority, but I'm sure our army will triumph someday.
Don't get me wrong. I do not want to encourage
revolutionary habits, or question traditions that have been working for millenniums, or threaten
the place of the mothers on the top of the sanctuary (right beside grandmothers, placed in the two spots available on the sides). Some years ago I saw a movie in which Robert de Niro dressed a rubber breast-like braw to breastfeed his grandson. The scene was funny, but
absolutely repugnant. There are things
that not even Vito Corleone can do. And believe me, I respect Vito Corleone like a father. Or better, as
a godfather.
However, like Jorge Furtado
best defined in the movie Ilha das Flores (Island of Flowers, a brazilian documentary) I believe that any "bipedal with a highly developed tele-encephalic and with opposable
thumbs", even being a man, is fully capable of learning how to mix water and baby formula or spreading diaper rash cream on
his child. I don’t believe in equal division of the tasks, sometimes you
really can’t replace the mother, but giving a hand to my wife is something I will always be willing to do.
Before every guy reading this start booing and throwing tomatoes at me, I must make an observation. Of course men can
withdraw from housekeeping tasks, if so we wish. Since marriage, I myself have been resisting bravely to a sink
with dirty dishes, being able to live peacefully with eventual roaches
and colony of fungi on the pile. However, the Ministry of Health alerts that these exceptions should be
previously arranged with your lovely wife, soon after you take notice – and
cumpliment – her new hairstyle, and make sure you nail every little detail of the deal. It’s
also important to remind you that the price will always be extremely unfair and that
your debt can only be finished in noble money, such as tickets to Europe or gold jewelry.
In case you opt for a bank
loan only so that you don’t have to clean a dirty diaper, I tottaly understand.
But, before making drastic decisions, bear in mind that one given day your wife won’t
be home and that, without any notice, your baby will start kicking and screaming,
either by thirst, hunger, pain or other 500 possibilities and, to end the pain
– the baby’s, your neighbors’ and yours – you will depend exclusively on your
skills. It won’t work to cry along. The mission is yours.
That’s why I say that taking care
of a child is like swimming or riding a bike: the sooner you learn the better.
It doesn’t hurt, it doesn’t bite and soon enough your child starts understanding
that you are not the pizza delivery guy or the doorman. And then, my friend, when your baby's toothless smile finally hits you for the first time, it's a knockout. You can’t see
anything around you, you can’t hear anything else, you can’t even move.
Tradução: Mariana Casals
Bem,pôquer eu não jogo, mas tomo um uísquezinho...!!!!!!!!! okok, eu faço o trampo de crupiê...
ResponderExcluirheheh
ResponderExcluirNão sei se nosso limitado contato me coloca na condição de amigo mas como imagino que meu irmão está além desta categoria vou me dar a liberdade de responder a pergunta. Eu topo, mas confesso que minha experiência no assunto se limita aos jogos on line e que há um punhado de situações que não me esforcei para entender. :) Quanto ao resto do texto acho que você tem toda razão. Como dizia a velha propaganda: "Não basta ser Pai, tem que participar!" Um abraço e parabéns (pelo blog, pelos textos e pela capacidade de escrever todos os dias desde sua criação)
ResponderExcluirHay que tener ternura, pero sin endurecer jamás.
ResponderExcluirPÔQUER?? Entre uma troca de fralda e outra , certo?? TÔ imaginando a cena: Fábio,Zeca e todos os outros Papais de bebês fraldulentos (que usam fraldas), tomando um suco e comendo uns cigarros de chocolate e quando o Primeiro chorasse eles gritariam "ALL IN" , "ALL IN" !! rs.rs
ResponderExcluirZeca e Gustavo, estarei em SP no final de semana com vosso cunhado/irmão, mas na volta certamente vou cobrar a saída, o úisque, etc. Abraço
ResponderExcluirTopo o pôquer! Com direito a troféu ladrão sem vergonha, charuto (que não fumamos ainda) e tudo mais! Abs!
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