quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Aos brothers - To the brothers

Apesar de acreditar que parte predominante dos leitores dos meus textos seja composta por mães, avós e outras mulheres que, por alguma razão, pessoal ou não, decidiram acompanhar a minha trajetória com o Antonio, tenho a impressão de que alguns marmanjos também pisam por estas bandas de vez em quando.

Ainda bem. Não tenho o talento do Chico Buarque para mantê-las eternamente anestesiadas, seja com minhas letras, seja com meus olhos não-azuis, e estaria em extrema desvantagem quando, por acidente, escrevesse algo que desagradasse o público feminino.

Por isso, as linhas a seguir são dedicadas a indivíduos desavisados como eu que, apesar da barba arranhar feito lixa, fazem questão de beijar seus rebentos até quase sufocá-los. Homens de fibra, que encaram fraldas recheadas de número 1 e número 2 sem fraquejar. Pais que entendem que seu papel é maior do que trocar as lâmpadas e matar as baratas, e se mantêm firmes, mesmo quando dá vontade de jogar tudo para o alto e sair para encher a cara. Sei que ainda somos minoria, mas nosso exército há de triunfar.

Longe de mim querer incentivar hábitos revolucionários, questionar tradições que dão certo há milênios ou ameaçar o lugar das mães no topo do pedestal (com as avós nas duas vagas imediatamente ao lado). Há alguns anos assisti um filme em que Robert de Niro vestia um peito de borracha para amamentar o neto. Engraçado, mas absolutamente repugnante. Tem coisas que nem Vito Corleone pode. E olha que respeito Vito Corleone como um pai. Ou melhor, como um padrinho.

Entretanto, como bem definiu Jorge Furtado no filme Ilha das Flores, acredito que qualquer ser bípede com tele-encéfalo desenvolvido e polegar opositor, mesmo que do sexo masculino, seja plenamente capaz de aprender a misturar água com leite em pó ou passar Hipoglós na sua cria. Não acredito em divisão igual de tarefas, tem horas que a mãe é insubstituível, mas dar uma mão é algo que estou disposto a fazer.

Antes que alguns comecem a me jogar tomates, quero fazer uma observação importante. É claro nós homens podemos muito bem nos isentar de algumas tarefas domésticas, se assim o desejarmos. Eu, por exemplo, resisto bravamente à pia de louças sujas, sendo capaz de conviver pacificamente com eventuais cucarachas e colônias de fungos. Porém, o Ministério da Saúde adverte que isso seja combinado previamente com sua digníssima mulher, logo após você notar – e elogiar – o seu novo corte de cabelo, e certifique-se de acertar as condições nos mínimos detalhes. É importante ressaltar também que o preço será sempre absurdamente injusto e que a sua dívida só poderá ser quitada em moedas nobres, como Euro ou ouro.

Caso você opte por pegar um financiamento no banco apenas para não ter que limpar eventuais excreções do seu herdeiro, entendo perfeitamente. Mas antes de tomar decisões drásticas, pense que algum dia sua mulher não estará em casa e que, sem mais nem menos, o seu filho começará a berrar como uma sirene e a jorrar lágrimas, seja por fome, frio, dor ou outras 500 possibilidades, e que o fim daquele martírio – para o bebê, para os vizinhos e para você – depende exclusivamente das suas habilidades. Não adianta chorar junto. A batata está com você.

É por isso que sempre digo que cuidar de criança é como nadar ou andar de bicicleta: melhor aprender logo. Não dói, não tira pedaço e em pouco tempo o seu filho começa a entender que você não é o entregador de pizza ou o porteiro do prédio. E aí, meu amigo, quando você é pego de surpresa pelo primeiro sorriso banguela, é nocaute na certa. Você não vê nada em volta, não escuta nada em volta e não consegue mais sair dali.

Para terminar, peço licença mais uma vez às persistentes mulheres que continuam lendo até este ponto, mesmo tendo sido levemente colocadas para escanteio lá em cima. É que tenho uma outra questão para resolver apenas com os integrantes do Clube do Bolinha. Uma pergunta importantíssima que quero fazer aos meus amigos, e que venho adiando desde que o Antonio nasceu: e aí, vagabundos, alguém topa jogar um pôquer?



To the brothers

Even though I believe the majority of the readers of this blog are mothers, grandmothers and other women that, for any reason, personal or not, have decided to follow my journey with Antonio, I have the feeling that some dudes also come here once in a while.

Thanks God. I don’t have Chico Buarque’s talent to keep those women forever numb, either by my writing or my non-blue eyes, and I would be in extreme disadvantage when, by accident, I wrote something that made the female readers uneasy. PS: Chico Buarque is a very popular brazilian singer, admired by men, truly loved by ladies.

For that reason, the following lines are for those unaware individuals like myself, who although the beard sticks like sand, make sure to kiss their kids until almost smothering them. Men of fiber, who face diapers full of number 1 and number 2 without flinching. Fathers who understand their role is bigger than just changing the light bulbs and killing cockroaches, men who stick to it, even when they want to give up and go out for a drink. I know guys like us are the minority, but I'm sure our army will triumph someday.

Don't get me wrong. I do not want to encourage revolutionary habits, or question traditions that have been working for millenniums, or threaten the place of the mothers on the top of the sanctuary (right beside grandmothers, placed in the two spots available on the sides). Some years ago I saw a movie in which Robert de Niro dressed a rubber breast-like braw to breastfeed his grandson. The scene was funny, but absolutely repugnant. There are things that not even Vito Corleone can do. And believe me, I respect Vito Corleone like a father. Or better, as a godfather.

However, like Jorge Furtado best defined in the movie Ilha das Flores (Island of Flowers, a brazilian documentary) I believe that any "bipedal with a highly developed tele-encephalic and with opposable thumbs", even being a man, is fully capable of learning how to mix water and baby formula or spreading diaper rash cream on his child. I don’t believe in equal division of the tasks, sometimes you really can’t replace the mother, but giving a hand to my wife is something I will always be willing to do.

Before every guy reading this start booing and throwing tomatoes at me, I must make an observation. Of course men can withdraw from housekeeping tasks, if so we wish. Since marriage, I myself have been resisting bravely to a sink with dirty dishes, being able to live peacefully with eventual roaches and colony of fungi on the pile. However, the Ministry of Health alerts that these exceptions should be previously arranged with your lovely wife, soon after you take notice – and cumpliment – her new hairstyle, and make sure you nail every little detail of the deal. It’s also important to remind you that the price will always be extremely unfair and that your debt can only be finished in noble money, such as tickets to Europe or gold jewelry.

In case you opt for a bank loan only so that you don’t have to clean a dirty diaper, I tottaly understand. But, before making drastic decisions, bear in mind that one given day your wife won’t be home and that, without any notice, your baby will start kicking and screaming, either by thirst, hunger, pain or other 500 possibilities and, to end the pain – the baby’s, your neighbors’ and yours – you will depend exclusively on your skills. It won’t work to cry along. The mission is yours.

That’s why I say that taking care of a child is like swimming or riding a bike: the sooner you learn the better. It doesn’t hurt, it doesn’t bite and soon enough your child starts understanding that you are not the pizza delivery guy or the doorman. And then, my friend, when your baby's toothless smile finally hits you for the first time, it's a knockout. You can’t see anything around you, you can’t hear anything else, you can’t even move.

To finish up, I must excuse myself once again to the brave women that have been reading until now, even though they were put a little aside up there in the first paragraph. I'm sorry, girls, but I have another issue to discuss only with the boys. It's an important question that I want to make to my friends, but I have been postponing ever since Antonio was born: hey, fellas, anyone up for some poker?


Tradução: Mariana Casals

7 comentários:

  1. Bem,pôquer eu não jogo, mas tomo um uísquezinho...!!!!!!!!! okok, eu faço o trampo de crupiê...

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  2. Não sei se nosso limitado contato me coloca na condição de amigo mas como imagino que meu irmão está além desta categoria vou me dar a liberdade de responder a pergunta. Eu topo, mas confesso que minha experiência no assunto se limita aos jogos on line e que há um punhado de situações que não me esforcei para entender. :) Quanto ao resto do texto acho que você tem toda razão. Como dizia a velha propaganda: "Não basta ser Pai, tem que participar!" Um abraço e parabéns (pelo blog, pelos textos e pela capacidade de escrever todos os dias desde sua criação)

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  3. Hay que tener ternura, pero sin endurecer jamás.

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  4. PÔQUER?? Entre uma troca de fralda e outra , certo?? TÔ imaginando a cena: Fábio,Zeca e todos os outros Papais de bebês fraldulentos (que usam fraldas), tomando um suco e comendo uns cigarros de chocolate e quando o Primeiro chorasse eles gritariam "ALL IN" , "ALL IN" !! rs.rs

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  5. Zeca e Gustavo, estarei em SP no final de semana com vosso cunhado/irmão, mas na volta certamente vou cobrar a saída, o úisque, etc. Abraço

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  6. Topo o pôquer! Com direito a troféu ladrão sem vergonha, charuto (que não fumamos ainda) e tudo mais! Abs!

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